domingo, fevereiro 26, 2006

sábado, fevereiro 18, 2006

Janta dos "Amigos do Baião"

Pois é pessoal... mais uma janta
Pra festejar o fim dos exames não há nada como um jantar com os amigos para vingar toda a abstinencia de alcool e convivio a que estivemos sujeitos durante tanto tempo.

É tempo de beber para esquecer ou beber pra festejar...
É tempo de borga, diversão e de encontrar os amigos que já não vemos há algum tempo.

A janta fica marcada pra dia 24, sexta feira. O ponto de encontro é no Piolho ás 20h zero zero.
Confirmem-me até quarta ou quinta

Beijos e abraços

Fantasporto 2006 - Não percam!!!

 Posted by Picasa

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Afinal o desenrasque é bom ou mau?

Uma das características distintivas da gestão em Portugal parece ser o desenrasque. Um estudo feito com gestores portugueses e expatriados em Portugal assim o indicava, traduzindo de resto uma intuição corrente. Os portugueses parecem ser mestres na arte do desenrasque e aparentemente demonstram algum orgulho nisso. Mas, afinal, o que é o desenrasque? Quais as suas consequências?

O desenrasque é por vezes tomado como sinónimo de improviso ou improvisação. Talvez valha a pena, no entanto, traçar uma distinção entre ambos. A improvisação é a arte da variação criativa deliberada sobre uma estrutura ou um plano. A improvisação necessita de estrutura, embora divirja dela. A estrutura é um apoio à criatividade, pelo que a improvisação ocorre melhor na presença de estruturas mínimas, isto é, suficientemente fortes para facilitarem a coordenação e a harmonia, mas abertas à novidade.

Nas organizações, essas estruturas podem tomar a forma de objectivos e responsabilidades. No jazz podem ser uma melodia e um conjunto de convenções sociais.

A improvisação é, em suma, um processo paradoxal, altamente estruturado e profundamente criativo. O desenrasque parece ser mais criativo que estruturado. É um jazz menos melodioso e mais livre. Pode produzir pequenos milagres e envolve uma componente criativa que é estimulante para os seus praticantes. Não é por acaso que ser "enrascado" é socialmente negativo e ser "desenrascado" é um motivo de orgulho.

Será o desenrasque um exclusivo português? Nada o leva a crer, já que existe evidência da mesma preferência por acção do tipo improvisado/desenrascado noutros países, designadamente nos latinos, incluindo a Espanha.

O horror ao desenrasque parece aliás maior junto dos profissionais oriundos de países com práticas de gestão mais desenvolvidas ao longo de décadas de gestão moderna - e afinadas na burocracia genuinamente moderna do Norte da Europa e não na sua aparentada pré- -moderna, que se difundiu no Sul da Europa, onde ainda persiste. Nos países do Norte, os planos são tomados a sério, as regras são universais e os desvios devem ser excepcionais. No Sul, os planos terminam muitas vezes com a apresentação em power point, as regras admitem uma paleta de excepções e o seguimento do plano é a excepção.

Em termos da superioridade dos modelos, os resultados falam por si. O orgulho lusitano na arte do desenrasque talvez apenas mostre que "there can be too much of a good thing". A consequência são anedotas como a relatada por um participante no estudo acima referido "A fábrica ideal na Europa teria gestores holandeses e operários alemães. Ao meio, dentro de uma redoma de vidro um português. No vidro estaria colado o aviso: quebrar em caso de emergência." C

Para desenvolver o assunto

Aram, J. D., & Walochik, K. (1996). Improvisation and the Spanish Manager. International Studies of Management and Organization, 26 73-89.

Ballas, A. A. & Tsoukas, H. (2004). Measuring Nothing The Case of the Greek National Health System. Human Relations, 57, 661-690.

Cunha, M. P. (2005). Adopting or Adapting? The Tension between Local and International Mindsets in Portuguese Management. Journal of World Business, 40(2), 188-202.
Miguel Pina e Cunha

Director de MBA da Universidade Nova de Lisboa

O cerco

JÁ FALTOU mais para que um dia destes tenha de passar à clandestinidade ou, no mínimo, tenha de me enfiar em casa a viver os meus vícios secretos. Tenho um catálogo deles e todos me parecem ameaçados: sou heterossexual «full time»; fumo, incluindo charutos; bebo; como coisas como pezinhos de coentrada, joaquinzinhos fritos e tordos em vinha d'alhos; vibro com o futebol; jogo cartas, quando arranjo três parceiros para o «bridge» ou quando, de dois em dois anos, passo à porta de um casino e me apetece jogar «black-jack»; não troco por quase nada uma caçada às perdizes entre amigos; acho a tourada um espectáculo deslumbrante, embora não perceba nada do assunto; gosto de ir à pesca «ao corrido» e daquela luta de morte com o peixe, em que ele não quer vir para bordo e eu não quero que ele se solte do anzol; acredito que as pessoas valem pelo seu mérito próprio e que quem tem valor acaba fatalmente por se impor, e por isso sou contra as quotas; deixei de acreditar que o Estado deva gastar os recursos dos contribuintes a tentar «reintegrar» as «minorias» instaladas na assistência pública, como os ciganos, os drogados, os artistas de várias especialidades ou os desempregados profissionais; sou agnóstico (ou ateu, conforme preferirem) e cada vez mais militantemente, à medida que vou constatando a actualidade crescente da velha sentença de Marx de que «a religião é o ópio dos povos»; formado em direito, tornei-me descrente da lei e da justiça, das suas minudências e espertezas e da sua falta de objectividade social, e hoje acredito apenas em três fontes legítimas de lei: a natureza, a liberdade e o bom senso. Trogloditas como eu vivem cada vez mais a coberto da sua trincheira, numa batalha de retaguarda contra um exército heterogéneo de moralistas diversos: os profetas do politicamente correcto, os fanáticos religiosos de todos os credos e confissões, os fascistas da saúde, os vigilantes dos bons costumes ou os arautos das ditaduras «alternativas» ou «fracturantes». Se eu digo que nada tenho contra os casamentos homossexuais, mas que, quanto à adopção, sou contra porque ninguém tem o direito de presumir a vontade «alternativa» de uma criança, chamam-me homofóbico (e o Parlamento Europeu acaba de votar uma resolução contra esse flagelo, que, como está à vista, varre a Europa inteira); se a uma senhora que anteontem se indignava no «Público» porque detectou um sorriso condescendente do dr. Souto Moura perante a intervenção de uma deputada, na inquirição sobre escutas na Assembleia da República, eu disser que também escutei a intervenção da deputada com um sorriso condescendente, não por ela ser mulher mas por ser notoriamente incompetente para a função, ela responder-me-ia de certeza que eu sou «machista» e jamais aceitaria que lhe invertesse a tese: que o problema não é aquela deputada ser mulher, o problema é aquela mulher ser deputada; se eu tentar explicar por que razão a caça civilizada é um acto natural, chamam-me assassino dos pobres animaizinhos, sem sequer quererem perceber que os animaizinhos só existem porque há quem os crie, quem os cace e quem os coma; se eu chego a Lisboa, como me aconteceu há dias, e, a vinte quilómetros de distância num céu límpido, vejo uma impressionante nuvem de poluição sobre a cidade, vão-me dizer que o que incomoda verdadeiramente é o fumo do meu cigarro, e até já em Espanha e Itália, os meus países mais queridos, tenho de fumar envergonhadamente à porta dos bares e restaurantes, como um cão tinhoso; enfim, se eu escrever velho em vez de «idoso», drogado em vez de «tóxicodependente», cego em vez de «invisual», preso em vez de «recluso» ou impotente em vez de «portador de disfunção eréctil», vou ser adoptado nas escolas do país como exemplo do vocabulário que não se deve usar. Vou confessar tudo, vou abrir o peito às balas: estou a ficar farto desta gente, deste cerco de vigilantes da opinião e da moral, deste exército de eunucos intelectuais. Agora vêm-nos com esta história dos «cartoons» sobre Maomé saídos num jornal dinamarquês. Ao princípio a coisa não teve qualquer importância: um «fait-divers» na vida da liberdade de imprensa num país democrático. Mas assim que o incidente foi crescendo e que os grandes exportadores de petróleo, com a Arábia Saudita à cabeça, começaram a exigir desculpas de Estado e a ameaçar com represálias ao comércio e às relações económicas e diplomáticas, as opiniões públicas assustaram-se, os governantes europeus meteram a viola da liberdade de imprensa ao saco e a srª comissária europeia para os Direitos Humanos (!) anunciou um inquérito para apurar eventuais sintomas de «racismo» ou de «intolerância religiosa» nos «cartoons» profanos. Eis aonde se chega na estrada do politicamente correcto: a intolerância religiosa não é de quem quer proibir os «cartoons», mas de quem os publica! A Dinamarca não tem petróleo, mas é um dos países mais civilizados do mundo: tem um verdadeiro Estado Social, uma sociedade aberta que pratica a igualdade de direitos a todos os níveis, respeita todas as crenças, protege todas as minorias, defende o cidadão contra os abusos do Estado e a liberdade contra os poderosos, socorre os doentes e os velhos, ajuda os desfavorecidos, acolhe os exilados, repudia as mordomias do poder, cobra impostos a todos os ricos, sem excepção, e distribui pelos pobres. A Arábia Saudita tem petróleo e pouco mais: é um país onde as mulheres estão excluídas dos direitos, onde a lei e o Estado se confundem com a religião, onde uma oligarquia corrupta e ostentatória divide entre si o grosso das receitas do petróleo, onde uma polícia de costumes varre as ruas em busca de sinais de «imoralidade» privada, onde os condenados são enforcados em praça pública, os ladrões decepados e as «adúlteras» apedrejadas em nome de um código moral escrito há quase seiscentos anos. E a Dinamarca tem de pedir desculpas à Arábia Saudita por ser como é e por acreditar nos valores em que acredita? Eu não teria escrito nem publicado «cartoons» a troçar com Maomé ou com a Nossa Senhora de Fátima. Porque respeito as crenças e a sensibilidade religiosa dos outros, por mais absurdas que elas me possam parecer. Mas no meu código de valores - que é o da liberdade - não proíbo que outros o façam, porque a falta de gosto ou de sensibilidade também têm a liberdade de existir. E depois as pessoas escolhem o que adoptar. É essa a grande diferença: seguramente que vai haver quem pegue neste meu texto e o deite ao lixo, indignado. É o seu direito. Mas censurá-lo previamente, como alguns seguramente gostariam, isso não. É por isso que eu, que todavia sou um apaixonado pelo mundo árabe e islâmico, quanto toca ao essencial, sou europeu - graças a Deus. Pelo menos, enquanto nos deixarem ser e tivermos orgulho e vontade em continuar a ser a sociedade da liberdade e da tolerância.
De Miguel Sousa Tavares no expresso